Antes de ontem e ontem foram dias de muito aprendizado.
Segunda feira eu recebi um documento para aprovação on line. Abri o documento, e as informações que constavam na página um não batiam com a página dois. Era matemática, soma de quantidades de matérias primas, tinha que bater.
Não poderia aprovar um documento onde as informações básicas estavam incorretas.
Liguei para o emissor, um colega da área de Desenvolvimento e Aplicação, uma pessoa com quem sempre trabalhei muito bem.
Comentei sobre o engano, pedindo a revisão, que eu aprovaria assim que estivesse conforme.
Aí começou o episódio singular na minha vida nesta empresa.
O cara surtou. Falando comigo ao telefone, disse que de todas as fábricas do grupo, eu sou a única pessoa que questiona os documentos e que pede revisão antes mesmo da emissão. Que isso era um absurdo, que ele iria conversar com outras pessoas, e iria me retirar da lista de aprovadores. Desta forma, eu só veria o documento no dia da reunião de aprovação, e portanto não teria chance de pedir revisão antes dessa data. Aliás, é para isso que as reuniões de aprovação existem, porque nessas ocasiões é redigida uma ata, onde estes comentários a respeito do documento são feitas. O documento não é revisado nunca, qualquer correção é feita na ata da reunião. E que aquilo que eu estava querendo revisar era apenas um detalhe. Se ele fosse revisar todos os detalhes de todos os documentos que ele tem que emitir, as coisas nunca saíriam do papel.
Para mim isso soa como completamente improdutivo (para não dizer totalmente BURRALDO), porque ele pretendia emitir um documento ERRADO e então redigir uma ATA para indicar onde o documento estava errado, e quais as informações corretas. Não é mais fácil emitir o doc certo logo de saída?
Eu realmente respirei fundo, falei calmamente que eu discordava daquilo, que eu estava fazendo uma análise crítica do documento. Ele se exaltou mais, e acabou colocando palavras na minha boca. Fui firme em contradize-lo, mas não perdi o carretel (apesar de me dar vontade de desligar o telefone na cara dele e mandar enfiar o documento você sabe onde...rs). Falei que eu não aceitaria o documento daquela forma, que ele poderia conversar com quem quisesse, e que no dia seguinte eu e ele conversaríamos sobre o assunto, já que ele estaria na fábrica. Desliguei.
Ontem ele foi para a fábrica... chegou, me cumprimentou como sempre, e apenas disse que precisávamos conversar... entramos numa sala, e ele começou assim: "Existe um ditado que diz que quando todo mundo diz uma coisa, e apenas uma pessoa discorda, esta pessoa está errada". Eu, sentadinha, apenas sorri e não respondi, imaginando que iríamos começar a discussão novamente. Aí ele continua: "E quem inventou esse ditado é um idiota. Ontem, todos estávamos dizendo a mesma coisa, só você foi contra, e apenas você estava correta. Isso apenas demonstra seu comprometimento com seu trabalho e a qualidade que você espera. Eu peço desculpas pelo meu destempero, e a partir de agora todos os documentos, de todas as fábricas, serão emitidos conforme você sugeriu". E eu pálidaaaaa na cadeira, desacreditando naquilo...rs
Não apenas ele disse tudo isso, como me trouxe chocolates para se desculpar!!
Minha nossa, foi surreal.... todo mundo conhece a fama dele de "estrela". Eu nunca tinha discutido com ele, e na segunda feira pude visualizar o cara indo reclamar com o Gerente dele, e este com o meu, e todo o circo estaria montado, "porque você sabe, ela cria muito caso!"
Neste caso, aprendi o seguinte:
- Conseguir me controlar durante uma discussão é a melhor coisa que posso fazer por mim. Por vários motivos: é apenas a outra pessoa que fica ridícula, ninguém me chama de maluca-descontrolada-deve-estar-de-TPM-ou-é-mal-comida, e principalmente, porque sem me exaltar, eu não perco a razão.
- Não importa o quanto a pessoa é uma estrelinha, ela pode ser surpreendentemente humilde, se conseguir vencer o orgulho e reconhecer que estava errada;
- Sempre vale a pena discutir as coisas com as quais eu não concordo. Eu sempre trabalhei para fazer a diferença, e não para concondar com a maioria. Mesmo que para isso eu tenha que criar certos desconfortos;
- Não ter medo de coisas do tipo "já que você está agindo assim, vou ter que conversar com certas pessoas, para ver se resolvemos isso". Isto é ameaça, e me dobrar as ameaças só faz com que as pessoas se sintam mais poderosas sobre mim, o que me faria entrar num ciclo difícil de ser quebrado. Coragem, sempre!
É isso aí, esta semana está cheia de surpresas! =)